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20 de jan. de 2011

“Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei,“ – Quaminical- 15 de dezembro - por Paul Washer

“Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei,“ – Quaminical- 15 de dezembro - por Paul Washer

“Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.”(1 Coríntios 15:1-4)

Um escritor ou pregador seria duramente pressionado se tivesse que produzir uma introdução ao Evangelho de Jesus Cristo que fosse melhor do que esta que é dada aqui pelo Apóstolo Paulo à igreja em Corinto. Nestas poucas linhas, ele nos dá verdade o suficiente para viver uma vida inteira e para nos levar de volta ao nosso lar de glória. Somente o Espírito Santo poderia capacitar um homem a escrever tanto, tão claramente, em tão pouco espaço.

Um Evangelho Para Todos “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho…” (1 Coríntios 15:1)
Nesta frase simples, encontramos uma verdade que precisa ser redescoberta por todos nós. O Evangelho não é meramente uma mensagem introdutória ao Cristianismo. Ele é “A” mensagem do Cristianismo, e não apenas no que diz respeito à salvação, mas também no que fala sobre a contínua santificação na vida do crente mais maduro. O Apóstolo já havia pregado o Evangelho a estas pessoas! Ele foi o pai delas na fé!(1 Coríntios 4:15). Ainda assim ele vê a maior necessidade de continuar ensinando o Evangelho para eles, não apenas para lembra-los dos ingredientes essenciais, mas também para expandir o conhecimento deles sobre isso. Na conversão deles, eles apenas começaram uma jornada de descobertas que abrangia a vida deles por inteiro e que irá continuar pelas eras sem fim da eternidade – a descoberta das glórias reveladas no Evangelho de Jesus Cristo.

À medida que olhamos para os registros da história Cristã, vemos homens e mulheres de uma paixão incomum por Deus e por Seu reino. Nós queremos ser como eles, e imaginamos como eles vieram a ter um fogo tão duradouro. Eu estudei as vidas de vários deles, e pude encontrar um denominador comum entre eles. Todos parecem ter tido um vislumbre da glória do Evangelho, e a beleza desse Evangelho acendeu sua paixão e os dirigiu a continuar. Paixão genuína e duradoura vem de um entendimento do que Deus fez por Seu povo na pessoa e na obra de Jesus Cristo! Esse entendimento é sempre crescente e sempre, e cada vez mais, aprofundado.

Hoje há tantas conferências e coisas assim, especialmente para os nossos jovens, que são planejadas para excitar a paixão do crente por meio da comunhão, música, preletores eloqüentes, histórias emocionais e fundamentos apaixonados. Ainda assim, frequentemente qualquer excitação que essas conferências criam, rapidamente desaparecem. No fim, pequenos fogos foram construídos em pequenos corações que se consomem em uns poucos dias. Nós esquecemos que a paixão genuína e duradoura nasce do conhecimento que alguém tem da verdade, e especificamente da verdade do Evangelho. Quanto mais uma pessoa compreende a beleza do Evangelho, mais essa pessoa vai ser atraída pelo seu poder. Um vislumbre do Evangelho vai mover o coração verdadeiramente regenerado a seguir. Cada vislumbre maior vai aumentar a velocidade até que essa pessoa esteja correndo sem medo em direção ao prêmio. Um coração de um Cristão verdadeiro não pode resistir a tal beleza. Esta é a maior necessidade do dia!

Um Evangelho Para Ser Pregado - … que vos anunciei, (1 Coríntios 15:1)
Parece que para a maioria, uma pregação apaixonada está fora de moda. Muitos consideram-na uma falta do refinamento e da sofisticação que são necessários para se ser efetivo nesta era moderna. O pregador apaixonado proclamando verdades corajosamente e sem ficar pedindo desculpas é agora considerado um obstáculo ao homem pós-moderno que prefere um pouco mais de humildade e abertura para outros pontos de vista. O argumento dessa maioria é que nós simplesmente precisamos mudar a forma como pregamos porque ela parece loucura ao mundo.
Tal atitude a respeito da pregação é uma prova de que perdemos nossas bases na comunidade evangélica. Foi Deus quem ordenou que a “loucura da pregação” fosse o instrumento para trazer a mensagem salvadora do Evangelho ao mundo.[2] Isso não significa que a pregação deva ser tola, ilógica ou esquisita, mas o padrão pelo qual toda pregação deve ser comparada é a Bíblia e não opiniões contemporâneas de uma cultura corrupta e caída que é sábia aos seus próprios olhos.[3]

Frequentemente teoriza-se que nossa cultura atual não tolera o tipo de pregação que foi tão efetivo durante os grandes despertamentos e avivamentos do passado. A pregação de George Whitefield, John Wesley e outros pregadores parecidos seria ridicularizada, satirizada e desprezada com risos pelo homem moderno. No entanto, esta teoria não leva em conta que estes mesmos pregadores foram ridicularizados e satirizados pelos homens de sua própria época! A verdadeira pregação do evangelho sempre vai ser “loucura” para cada cultura. Qualquer tentativa de remover a ofensa e tornar a pregação “apropriada” diminui o poder do Evangelho. Isso também derrota o propósito para o qual Deus escolheu a pregação como meio para salvar os homens – para que a esperança dos homens não repousasse sobre refinamento, eloqüência ou sabedoria mundana, mas no poder de Deus.[4]Nós vivemos em uma cultura que está presa ao pecado como com rebites de ferro. Histórias morais, máximas pitorescas e lições de vida divididas do coração de um pregador amado não têm poder contra tal escuridão. Precisamos de pregadores do Evangelho de Jesus Cristo que saibam as Escrituras e estejam capacitados pela graça de Deus para enfrentar qualquer cultura e gritar “Assim diz o Senhor!”

Um Evangelho para ser recebido … o qual recebestes, 1 Coríntios 15:1
Para os homens serem salvos, o Evangelho precisa ser recebido. Entretanto, o que significa “receber” o Evangelho? Não há nada de extraordinário a respeito da palavra “recebestes” no português nem no grego bíblico, mas no contexto do Evangelho, ela se torna extraordinária, e uma das palavras mais radicais nas Escrituras. Primeiro, quando duas coisas são contrárias ou opostas uma à outra, receber uma é rejeitar a outra. Já que não há afinidade ou amizade entre o Evangelho e o mundo, “receber” o Evangelho é “rejeitar” o mundo. Nisso é demonstrado quão radical o ato de receber o Evangelho pode ser. Receber e seguir o chamado do Evangelho é rejeitar tudo que pode ser visto com os olhos e segurado com as mãos, em troca do que não pode ser visto.
Isso significa rejeitar a autonomia pessoal, o direito de governar a própria vida, para escravizar-se a um “messias” que morreu dois mil anos atrás como um inimigo do estado e um blasfemo. É rejeitar a maioria e seus pontos de vista, para juntar-se a uma minoria repreendida e aparentemente insignificante chamada Igreja. É arriscar tudo nesta única vida pela crença de que este profeta empalado é o Filho de Deus e Salvador do mundo.
Segundo, para um homem “receber o Evangelho” significa que ele vai confiar exclusivamente na pessoa e obra de Jesus Cristo como o único caminho para estar em pé diante de Deus.

É uma máxima comum dizer que acreditar exclusivamente em qualquer coisa é perigoso, ou, na melhor das hipóteses, uma coisa muito imprudente de se fazer.
Um homem é considerado negligente por não ter um plano de backup, não ter uma rota alternativa de escape, não ter investimentos diversificados, ou por colocar todos os ovos na mesma cesta e queimar a ponte atrás de si. Ainda assim, é exatamente isso que é feito pelo homem que recebe Jesus Cristo. A fé do cristão é exclusiva. Receber verdadeiramente a Cristo é jogar fora todas as outras esperanças em todas as outras coisas, e ficar só com Cristo. É por essa razão que o apóstolo Paulo declara que, se Cristo for um boato, o cristão é, de todos os homens, o mais digno de pena.[5] Receber o Evangelho não é meramente fazer uma oração pedindo a Jesus para entrar no seu coração, mas é jogar fora o mundo e abraçar a plenitude das reivindicações de Cristo.

“Receber o Evangelho” é abrir a sua vida para o Senhorio de Jesus Cristo. Isso é bem diferente do apelo do evangelismo contemporâneo que ensina os homens a “fazerem de Jesus o Senhor” da vida deles. O que nós precisamos entender é que Jesus É o Senhor da vida de todo homem. As Escrituras declaram que Deus fez dele ambos Senhor e Cristo.[6] Ele constituiu Seu Rei sobre Seu santo monte e zomba de todos os que se rebelam contra Ele. [7] Deus não chama os homens para que façam de Jesus Senhor, mas chama para viverem em absoluta submissão ao Senhor que Ele fez.
O homem que recebe o Evangelho, e com isso, Jesus como Senhor, faz uma coisa muito perigosa e sensível. É perigosa de um jeito “Nárnia”[8]. Afinal, Ele não é um Leão domesticado, e Ele certamente não é seguro. Ele tem o direito de pedir qualquer coisa a aqueles que O chama de Senhor, mas Ele é bom, e digno de alegre confiança. Aqueles que não entendem o perigo do chamado do Evangelho o ouviram apenas fracamente. O mesmo Jesus, que chama a si os cansados,[9] pode também pedir-lhes tudo, e enviá-los a perder suas vidas por amor dEle neste mundo caído e tenebroso.
Receber o Evangelho e Jesus como Senhor é também uma coisa sensível de se fazer. O que poderia ser mais razoável do que seguir o Criador onipotente e Sustentador do universo, que amou Seu povo com um amor eterno, redimindo-os com Seu próprio sangue, e demonstrou comprometimento intransigente a cada promessa que Ele já fez? Até mesmo se Ele não fosse assim, e se toda essa bondade não estivesse nEle, ainda seria mais sensível seguí-lO, pois quem pode resistir à Sua vontade? É por estas razões, e mais incontáveis outras, que o apóstolo nos chama a “apresentar nossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, e chama isso de nosso “culto racional” ou espiritual.[11]
“Receber o Evangelho” é tirar a si mesmo e ao mundo do trono e assim Cristo ser nosso novo epicentro! Ele se torna a fonte, o propósito, o objetivo e a motivação de tudo o que nós somos e fazemos. Quando um homem recebe o Evangelho, sua vida inteira começa a ser vivida em um contexto diferente, e esse contexto é Cristo. Apesar de os sinais externos no momento da verdadeira conversão poderem ser menos que dramáticos, os efeitos graduais serão monumentais.
Finalmente, “Receber o Evangelho” é tê-lo como a própria fonte e sustento da sua vida. Cristo não pode ser recebido como “uma parte” da vida de alguém ou como um anexo a todas as outras coisas boas que alguém já possui sem Ele. Ele não é um acessório que veste nossa vida e a faz melhor. Ao receber o Evangelho, Ele se torna nossa vida. Em João 6:53, Jesus ensinou, “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.” No Salmo 34:8, Davi grita, “Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom.” O que pode tornar isso mais claro? Quando recebemos a Cristo em nossas vidas, Ele se torna para nós não apenas uma refeição necessária que nos sustenta, mas também uma refeição requintada na qual nos deliciamos.
Um Evangelho no qual perseveramos -… e no qual ainda perseverais. (1 Coríntios 15:1)
Em nosso texto, o apóstolo Paulo nos conta que o Evangelho não é apenas para ser recebido, mas também é a verdade sobre a qual o verdadeiro crente persevera. De fato, perseverar firme na verdade do Evangelho é a evidência de que você realmente recebeu o Evangelho. Tiago nos ensina que a verdadeira fé salvadora produz obras.[12] Aqui, o apóstolo Paulo nos ensina que a verdadeira fé salvadora produz uma convicção que governa a vontade e determina o comportamento.

Aquele que verdadeiramente recebe o Evangelho, persevera nele, e vive sua vida de acordo com suas verdades. Nas palavras de Jesus Cristo, aquele que ouve e recebe o Evangelho “será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.”[13] O apóstolo Paulo tinha uma grande razão para esperar que pelo menos alguns dos indivíduos na Igreja em Corinto fossem verdadeiros crentes porque eles estavam perseverando nas verdades do Evangelho. Outros que se identificaram com a mesma igreja traziam grande preocupação a Paulo e então ele os admoestava a testarem ou examinarem a si mesmos e verem se eles estavam ou não na fé.[14] Uma coisa é fazer uma profissão de fé cristã, outra coisa bem diferente é validar aquela profissão de fé com a sua vida. Um homem pode dizer que “recebeu o Evangelho”, mas a questão que permanece é “Ele persevera no Evangelho?” A segunda é a evidência da primeira. Dizer que receber o Evangelho produz convicção real do Evangelho não é o mesmo que dizer que novos cristãos não serão imaturos ou que cristãos maduros não vão passar por batalhas. Até os mais piedosos entre nós lutam contra o pecado e são cheios de falhas. Porém, no meio da batalha, é evidente que eles possuem uma profunda convicção de que o Evangelho é verdadeiro, e eles demonstram uma determinação de perseverar nele. Embora às vezes possam perder o equilíbrio e até cair, no curso geral de suas vidas podemos vê-los perseverando! Eles perseveram porque Deus os faz perseverar.[15] Eles foram regenerados pelo Espírito de Deus e o mesmo Espírito habita dentro deles. Embora eles lutem contra o pecado e contra a carne caída, uma verdadeira convicção levando à justiça é evidente

Um Evangelho pelo qual somos salvos -…por ele também sois salvos… (1 Coríntios 15:2)

A maior promessa do Evangelho é a Salvação. Todas as outras promessas e benefícios empalidecem quando são comparados a esta única coisa – que o Evangelho é o poder de Deus para salvação [16] e quem invocar o nome do Senhor será salvo [17]. De acordo com 1 Pedro 1:9, a salvação é o próprio fim ou objetivo da fé do crente. É o fim ou objetivo por trás de tudo o que Cristo fez. É a grande esperança do verdadeiro crente, e o objetivo em direção ao qual ele se esforça. Deus não poderia dar um presente melhor e o crente não poderia ter uma esperança ou motivação maior do que a salvação definitiva por meio do Evangelho de Jesus Cristo.O presente da salvação é magnificado ainda mais quando nós percebemos o que nós éramos antes de Cristo e o que nós merecíamos naquele estado. Nós éramos pecadores por natureza e por ações, e éramos corruptos ao ponto da depravação. Éramos infratores e criminosos sem desculpa ou apelo diante do tribunal da justiça de Deus. Nós não merecíamos nada menos que a condenação eterna, mas agora somos salvos pelo sangue do próprio Filho de Deus. Enquanto éramos pecadores desamparados e inimigos de Deus, Cristo morreu pelos ímpios [18]. Por meio dEle, nós que estávamos distantes fomos trazidos para perto [19]. Nele, temos a redenção por meio do Seu sangue, e o perdão de nossos pecados, de acordo com as riquezas de Sua graça[20].
Nós fomos salvos do nosso pecado, reconciliados com Deus e trazidos a uma amizade com Ele como filhos! O que mais poderíamos desejar, do que mais precisamos? O presente da salvação por meio do sangue do próprio Filho de Deus não é suficiente para encher nossos corações até transbordar por uma eternidade de eternidade? Não é suficiente para nos motivar a viver por Aquele que morreu? Que necessidade temos de outras promessas? Nós vivemos por Ele mais porque Ele nos promete não apenas salvação, mas também cura, vida fácil, riqueza e honra? O que são essas coisas se comparadas ao presente da salvação e a conhecê-Lo? Fora com aqueles que procuram convencer-nos à devoção prometendo outras coisas que não Jesus Cristo. Se todos os que nós já amamos forem tomados de nós, e se nosso corpo apodrecer sobre um monte de esterco, e se nosso nome for difamado por amigos da mesma forma que por inimigos, nós ainda devemos encontrar toda a devoção de que precisamos para amar, adorar e servir ao Mestre neste único fato – Ele derramou Seu próprio sangue por nossas almas. A religião pura e imaculada é abastecida por esta única paixão sagrada.

Por que é que a promessa da salvação eterna sozinha não parece ter tanto poder para atrair os homens a Cristo? Por que o homem moderno está mais interessado em como o Evangelho pode ajudá-lo nesta vida presente? Primeiro, é porque os pregadores não estão mais pregando sobre a certeza de um julgamento e os perigos do inferno. Quando estas coisas são pregadas biblicamente e claramente, os homens começam a ver que a maior necessidade deles é serem salvos da condenação eterna, e as necessidades “mais práticas” da presente era tornam-se triviais em comparação. Segundo, precisamos entender que a grande maioria dos homens, nas ruas e nos bancos de igreja, são carnais, e homens com uma mente carnal amam mais este mundo do que o próximo. Eles têm pouco interesse nas coisas de Deus e na eternidade [21].

A maioria deles prefere ir a uma conferência sobre auto-estima e auto-aperfeiçoamento do que ouvir um sermão sobre a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor [22].

Embora seja verdade que o Evangelho pode melhorar – e geralmente melhora o estado e as condições de vida de alguém, como mordomos do evangelho, devemos evitar a tentação de atrair ouvintes e membros com qualquer promessa ou suporte que não sejam Jesus Cristo e vida eterna. Embora isso possa ser além do radical nesta era moderna de evangelismo, nós faremos bem em gritar às massas, “Jesus Cristo promete a vocês duas coisas: uma salvação eterna na qual vocês devem ter esperança e uma cruz na qual vocês devem morrer. O Espírito e a noiva dizem ‘Vem’.”

Um Evangelho para ser retido ... se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. (1 Coríntios 15:2)
A doutrina da “Perseverança dos Santos” [23] é uma das mais preciosas verdades para o crente que a entende. É o maior conforto e encorajamento saber que Aquele que começou a boa obra em nós vai completá-la [24]. Porém, esta doutrina tem sido grosseiramente pervertida e tem se tornado o instrumento chefe em dar falsa segurança a incontáveis indivíduos que ainda não foram convertidos e ainda estão em seus pecados.

No texto acima, o apóstolo Paulo escreve “… sois salvos, SE retiverdes a palavra…”. A palavra “se” introduz uma cláusula condicional que nós não devemos ignorar e não podemos remover. Uma pessoa é salva “se” ela retiver o Evangelho, mas “se” ela não retiver o Evangelho, ela não é salva. Isto não é uma negação da doutrina da perseverança, é uma explicação dela. Ninguém que verdadeiramente crê a respeito da salvação será jamais perdido para a destruição eterna. A graça e o poder de Deus que o salvaram vão também mantê-lo até aquele dia final, mas a evidência de que eles verdadeiramente creram é que eles continuam nas coisas de Deus e não viram as costas para Ele. Embora eles ainda lutem contra a carne e estejam sujeitos a muitas falhas, o curso completo de suas vidas irá revelar um progresso definido e notável tanto na fé como na piedade. A perseverança deles não os salva nem os transforma em objetos da graça, mas revela que eles são objetos da graça e que são verdadeiramente salvos pela fé. Para colocar de uma forma mais clara, a prova ou validação da conversão genuína é que aquele que professa a fé em Cristo persevera naquela fé e cresce em santificação ao longo do curso completo de sua vida. Se um homem professa uma fé em Cristo e ainda assim cai, ou não faz nenhum progresso na piedade, isso não significa que ele perdeu sua salvação, isso simplesmente revela que ele nunca se converteu. Esta verdade tem implicações tremendas e de longo alcance para muitos que professam a fé em Cristo. Quantos nas ruas e nos bancos de igreja acreditam que eles são “salvos” e completamente “cristãos” porque um dia eles fizeram uma oração e pediram a Jesus para entrar em seus corações? A vida deles nunca mudou, eles não mostram nenhuma evidência da graça de Deus e ainda assim eles se mantém certos de sua salvação por causa de uma decisão que eles tomaram no passado e por causa da crença de que suas orações foram realmente sinceras. Não importa quão popular seja esta crença, não há base bíblica para ela.
É verdade que esta conversão acontece em um momento específico no tempo onde os homens passam da morte para a vida por meio da fé em Jesus Cristo. Porém, a certeza bíblica de que uma pessoa passou da morte para a vida não é baseada meramente no exame do momento da conversão, mas no exame da vida da pessoa daquele momento em diante. No meio de tanta carnalidade, o apóstolo Paulo não pede aos coríntios para reavaliarem a experiência de conversão deles no passado, mas para examinarem a vida deles no presente [25]. Nós faríamos bem em seguir a liderança de Paulo no aconselhamento de supostos convertidos. Eles precisam saber e nós precisamos ensiná-los que a evidência de uma genuína obra de salvação de Deus no passado é a continuidade da mesma obra até o dia final.

Um Evangelho que vem antes de tudo. - “Antes de tudo…” (1 Coríntios 15:3)
Não há palavra ou verdade de maior importância do que o Evangelho de Jesus Cristo. As Escrituras estão cheias de mensagens. A menor delas é mais valiosa do que toda a riqueza do mundo e mais importante do que os maiores pensamentos jamais formados na mente do homem. Se a poeira das Escrituras é mais preciosa do que ouro [26], como podemos calcular o valor ou a importância do Evangelho?

Mesmo dentro da Bíblia, a mensagem do Evangelho não tem comparação. A história da criação, apesar de ser descrita com esplendor, curva-se diante da mensagem da cruz. A Lei de Moisés e as palavras dos profetas apontam para longe de si mesmas, para esta mensagem única de redenção. Até a Segunda Vinda, que nos deixa maravilhados, permanece na sombra desta única palavra. Não é exagerado dizer que o Evangelho de Jesus Cristo é a maior e mais essencial mensagem da fé cristã e fundamento da esperança do crente. Não há nada mais importante, nada mais útil, nada mais necessário para a promoção da glória e do Reino de Deus!

Se isso é verdade, deveríamos ter essa magnífica obsessão em compreender o Evangelho. É uma tarefa impossível, mas vale cada grama de esforço gasto, pois todas as riquezas de Deus e cada prazer verdadeiro para o crente são encontrados ali. Vale a pena nos desligarmos de todos os empreendimentos menores e prazeres inferiores para podermos sondar as profundezas da graça de Deus revelada nesta única mensagem.

Por que, então, uma paixão verdadeira pelo Evangelho é algo tão raro no meio do povo de Deus? Primeiro, porque o Evangelho comumente pregado hoje é uma versão terrivelmente reduzida e truncada do original. O Evangelho de Deus não pode ser contido num trato nem resumido a umas poucas leis espirituais. É bom entender que Deus tem um plano, que nós somos pecadores, e que Cristo morreu e ressuscitou para que pudéssemos ser salvos pela fé, mas isso é apenas o princípio. E quando buscamos na Bíblia, e descobrimos o significado dessas coisas que nós percebemos que estamos em uma jornada que vai durar além das nossas vidas e mais milhares de eternidades.

Com cada nova verdade descoberta, nós somos mais e mais capturados pela glória do Evangelho até que ele consuma nossos pensamentos e governe nossa vontade. Esta exploração no Evangelho é necessária se nós pretendemos ser apaixonados a respeito disso.
Uma segunda razão para a falta de paixão é que o Evangelho é visto por muitos como uma Introdução ao Cristianismo, ou o passo de bebê para a fé que é rapidamente aprendido e deixado para trás por coisas mais profundas. Nada poderia estar mais distante da verdade! O Evangelho é a “coisa profunda” do cristianismo! Escatologia e o livro do Apocalipse serão completamente aprendidos na segunda vinda, mas nossa busca pelo conhecimento do Evangelho vai continuar por toda a eternidade. O maior dos cristãos nunca irá se tornar um mestre do Evangelho, mas todos os verdadeiros cristãos terão o evangelho por mestre.

Um Evangelho pronunciado e entregue. “…vos entreguei o que também recebi…” (1 Coríntios 15:3)
No texto acima, aprendemos duas importantes verdades a respeito do Evangelho – ele é pronunciado, e é para ser entregue Quando o apóstolo Paulo escreve que ele “recebeu” o Evangelho, ele está falando de uma revelação especial. Ele não fabricou esta mensagem, nem pegou emprestada de outros. Em vez disso, uma revelação extraordinária de Jesus Cristo veio a ele. Em Gálatas 1:11-12, Paulo descreve esta experiência em maiores detalhes: Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.
Existe apenas um único Evangelho verdadeiro. Ele nasceu no coração de Deus e foi pronunciado para a igreja por meio dos apóstolos. Estes homens, sob a inspiração do Espírito Santo, eram bastante claros a respeito do conteúdo de seu evangelho e de sua imutabilidade. Ele não deveria ser mudado ou adaptado para agradar o paladar de diferentes culturas ou épocas, mas deveria ser tida na mais alta conta como verdade absoluta. Nós que nos tornamos recebedores e mordomos deste Evangelho faríamos bem e escutar aos seus avisos e lidar com o Evangelho com o maior cuidado, até mesmo com temor. Judas nos exorta a batalhar por essa fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos [29]. Paulo nos admoesta a guardá-la como um tesouro que nos é confiado [30] e até vai mais longe a ponto de pronunciar uma maldição sobre qualquer homem ou anjo que tente adaptar a mensagem do Evangelho para alguma noção preconcebida de cultura ou religião: Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema. [31]

Cada geração de cristãos precisa perceber que um Evangelho “eterno” foi anunciado a eles. Como mordomos, é nosso dever preservar este Evangelhos sem adições, subtrações ou quaisquer sortes de modificações. Alterar o Evangelho em qualquer sentido é amaldiçoar nossas próprias almas, e anunciar um evangelho corrupto para a geração seguinte. Por esta razão, o apóstolo Paulo alertou o jovem Timóteo a tomar as dores com as verdades que lhe são confiadas, e prometeu a ele que fazendo assim ele iria assegurar a salvação para ambos, ele mesmo e aqueles que o ouvissem [32]
Nós, que recebemos o Evangelho, temos a temerosa obrigação de entregá-lo. Esta obrigação não é apenas para com Deus, mas também para com nossa própria geração e para com as gerações que ainda virão. Embora o Evangelho possa ser corrompido em um instante, a Igreja pode levar anos, até mesmo séculos para recuperá-lo. Se a história da Igreja nos ensina algo, é que em meio a vários movimentos heréticos, há algumas poucas reformas genuínas. Não há nada pior do que mantermos o silêncio enquanto um mundo perdido corre precipitadamente para o inferno. É o crime de pregar a eles um evangelho aguado, esculpido para a cultura, um evangelho truncado que permite a eles viver uma aparência de santidade, enquanto negam o seu poder [33], professar conhecer Deus, enquanto o negam com suas obras [34], e chamarem Jesus de “Senhor, senhor”, enquanto não fazem a vontade do Pai. Ai de nós se não pregarmos o Evangelho, mas Ai ainda mais se nós o fizermos de modo incorreto![36]

Um Evangelho para ser Explicado. “…que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras…” (1 Coríntios 15:3-4)


O Evangelho é tudo no Cristianismo e nas Escrituras [37], mas nem tudo no Cristianismo ou nas Escrituras é o Evangelho. Cura física, um bom casamento, cuidado providencial de Deus, embora sejam embasados sobre e venham do Evangelho, não são o Evangelho. O Evangelho é uma mensagem muito específica nas Escrituras, e o texto acima nos mostra essa mensagem de maneira clara e concisa. Nestas simples frases pode ser encontrada a salvação do mundo. Do nosso texto, aprendemos que o Evangelho de Jesus Cristo descansa sobre duas grandes colunas – Sua morte e ressurreição. Paulo o apóstolo encontrou com os judeus de Tessalônica por três sábados seguidos e discutiu com eles a partir das Escrituras, “explicando e dando evidência de que o Cristo tinha de sofrer e ressuscitar dos mortos”[41]. Finalmente, há o maior Expositor de todos, nosso Senhor Jesus Cristo, que explicou Deus ao homem em Sua encarnação [42] e explicou o Evangelho aos Seus discípulos aturdidos na estrada para Emaús.

“E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.”[43]Nós não somos chamados apenas para proclamar a verdade, mas para explicá-la aos nossos ouvintes. Nós precisamos dizer a eles que eles pecaram, mas precisamos também explicá-los o mal disso e as terríveis consequências que se seguem. Nós precisamos proclamar a morte de Cristo, mas precisamos também explicar o porquê dela ser necessária e o que ela realizou. Precisamos declarar Sua ressurreição e ascensão, mas também temos que explicar o que eles significam para nossa salvação e para o governo do universo. Devemos contar a eles o que Ele fez, mas temos também que explicar a eles o que eles devem fazer. Proclamações e palavras nesta forma são importantes, mas apenas até o grau em que são propriamente definidas e aplicadas. Este é o caso do Evangelho.


[2] 1 Coríntios 1:21
[3] Romanos 1:22
[4] 1 Coríntios 1:27-30
[5] 1 Coríntios 15:19
[6] Atos 2:36
[7] Salmo 2:4-6
[8] Uma referência às Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis.
[9] Mateus 11:28
[10] Mateus 10:16, 39
[11] Romanos 12:1
[12] James 2:14-26
[13] Mateus 7:24-25
[14] 2 Coríntios 13:5
[15] Romanos 14:4
[16] Romanos 1:16
[17] Romanos 10:13
[18] Romanos 5:6-10
[19] Efésios 2:13
[20] Efésios 1:7
[21] Romanos 8:5
[22] Hebreus 12:14
[23] A doutrina da perseverança é descrita no seguinte sumário tirado do Resumo dos Princípios: “Aqueles a quem Deus aceitou no Amado, e santificou por Seu Espírito, nunca irão cair total ou finalmente do estado de graça, mas certamente vão perseverar até o fim…”

[24] Filipenses 1:6
[25] 2 Coríntios 13:5
[26] Jó 28:6
[27] “Acrópole”: Do grego a palavra akro significando “alto” e polis significando “cidade”. Este é o ponto alto ou citadela da fé cristã, ou sua cidade fortificada.

[28] Hebreus 6:4-5
[29] Judas 1:3
[30] II Timóteo 1:14
[31] Gálatas 1:8-9
[32] I Timóteo 4:15-16
[33] II Timóteo 3:5
[34] Tito 1:16
[35] Mateus 7:21
[36] I Corintios 9:16
[37] De uma forma em que é a grande e essencial verdade do cristianismo e das Escrituras
[38] O termo está sendo usado de forma ampla em referência a qualquer cristão que está pregando ou compartilhando o Evangelho
[39] Atos 8:26-35
[40] Atos 18:26
[41] Atos 17:1-3
[42] João 1:18 – A palavra “explicou” é traduzida da palavra grega exegéomai que significa desenhar ou revelar um ensinamento ou verdade.
[43] Lucas 24:27 – A palavra “explicou” é traduzida da palavra grega diermeneúo que significa descobrir o significado de alguma coisa, explicar ou expor.

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